domingo, 24 de abril de 2011

CHICO ANYSIO: 'ESTIVE À BEIRA DA MORTE'

Maior humorista do país passou sufoco em 110 dias de internação

O mestre do humor brasileiro, que padece há anos de um mal provocado pelos cigarros, chamado DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, associação entre Enfisema Pulmonar e Bronquite Crônica), viveu recentemente dias difíceis durante um período de hospitalização pela exacerbação e complicações da doença, que incluíram 85 dias exclusivamente em unidade de terapia intensiva.

Estamos em compasso de espera para a aprovação, pela Câmara de Vereadores da cidade do Rio de Janeiro, de um Projeto de Lei, que redigimos a quatro mãos com o Presidente da Comissão de Saúde, Vereador Carlos Eduardo, do que poderá vir a ser o Dia Municipal da Conscientização da DPOC, para que mais pessoas possam conhecer esta doença, seu principal causador (o cigarro) e suas possibilidades de tratamento.


foto Alexandre Brum



Em entrevista concedida à jornalista Regina Brito, de O Dia, publicada na revista Tudo de Bom, em 24 de abril de 2011, Chico revela que ficou à beira da morte e escapou. O Centro de Apoio ao Tabagista, que tem como um de seus focos de ação a prevenção das doenças relacionadas ao tabaco, considera as palavras do mestre do humor uma coisa pra lá de séria.


Leiam abaixo a íntegra da entrevista, que estamos tomando a liberdade de divulgar:


'Estive à beira da morte'


O mestre do humor no Brasil, Chico Anysio, saiu de cena por 110 dias, 85 deles passados na UTI do Hospital Samaritano, no Rio, onde chegou a ser desenganado pelos médicos. Enfrentou cirurgias, teve pneumonia, perdeu a fala, deixou de andar. "Estive à beira da morte três vezes, mas sobrevivi", comemora.



Chico sofreu, e muito. Mas o longo período de internação não acabou com a graça de quem nasceu para fazer rir. Recuperado, voltou ao lar e ao trabalho. Na entrevista à coluna, o humorista de 80 anos, conta o que passou e fala sobre o que o motivou na luta para sobreviver: "A vida em si! Estou vivendo um momento muito feliz. Adoro minha mulher, me dou muito bem com os meus filhos, meus amigos, meu trabalho. E vou gravar meu especial de fim de ano, em julho".



O que tirou de lição desse período em que ficou internado? "Não somos nada! Qualquer coisinha derruba a gente. Eu estive á beira da morte três veses, fui desenganado, mas sobrevivi e devo muitíssimo à Malga, minha mulher, que me fez mudar de médico. O que estava me atendendo não estava satisfazendo. Ao mudar, a coisa virou de 10 para 1. Agradeço ao Dr. Lany e à equipe dele".



Qual foi o pior momento? "Os 85 dias internado na UTI sem poder beber água. Isso foi terrível! Eu dava um braço por um copo d'água! Estou totalmente recuperado graças ao belo trabalho das fonoaudiólogas. Recuperei meu grave e um pouco do metal da minha voz. Só me falta aprender a andar de novo. Acho que daqui a um mês já estarei andando. estou fazendo fisioterapia do corpo e a respiratória por causa do enfisema, que foi um presente que ganhei de Deus, porque eu poderia perfeitamente ter tido um câncer de pulmão. Já parei de fumar há mais de 20 anos, mas o cigarro é o mais tóxico dos vícios.


Pensou em desistir e se entregar ou sempre teve esperança? "Tinha certeza da minha recuperação. Eu sabia que depois das três quase mortes eu estaria curado. Não sabia que dia era, o mês, a semana... Não sabia nada! Sou muito protegido, porque não senti nunhma dor. Mas foi horrível, porque não tem dor pior do que o CTI".


Qual foi a primeira coisa que fez ao receber alta e chegar em casa? "Pedi um copo d'água bem gelado, depois comi uma rabada. estou comendo de tudo desde que cheguei do hospital. Já comi feijoada, feijão tropeiro...".


De quem recebeu mais apoio? "Sem contar com minha mulher? Da Lu, minha secretária, do meu vizinho que trabalha comigo, do Nizo (Neto), meu filho, que ia muito lá. O pessoal da igreja Messiânica, que todo dia enviava alguém diferente para me aplicar o Johrei (método de canalizar a energia com as mãos) e o apoio total da junta médica. Fui visitado pelo Maurício Sherman (diretor do 'Zorra Total'), Érco Magalhães, da Globo; Ziraldo (cartunista). A Rede Globo é de uma importância transcedental. Colocou uma ambulância na porta do meu condomínio, com médico, enfermeiro e técnico de enfermagem. me ofereceu de presente o 'home care', que estou usando até agora. Agradeço a Deus por ter me inspirado a não aceitar nenhuma das propostas feitas para sair da Globo. Cada vez eu sou mais global".


Para um comunicador feito você, como foi o período em que não conseguia falar? "Estou reaprendendo a falar. Estou aprendendo tudo de novo. Como eu disse no começo, não somos coisa nenhuma. Um cisco no olho derruba um ser humano".


O que mais gosta de fazer, mas ainda não pode? "Ir à piscina! Eu perdi o Réveillon, Natal, verão, carnaval, perdi isso tudo... masagora vou recuperar, se deus quiser!".


Acredita que ganhou uma nova chance? "Só tenho mais quatro vidas. Os gatos não têm sete?. Então só me restam quatro (risos)".


Como vê o humor na TV atualmente? "Não vejo TV aberta, só SPORTV e ESPN. Eu tinha um ouvido que era ruim e um muito bom, o médico mexeu no muito bom e deixou pior do que o ruim. Acho que isso é irreversível. Vou ter que ver um aparelho que se adapte melhor ao meu caso".


Seus filhos, Nizo (Neto) e Bruno (Mazzeo) seguiram o mesmo caminho que o seu. O que acha deles como humoristas? "O Nizo é muito bom no teatro e na TV também, mas tem pouca chance. O Bruno é ótimo, acho o melhor dos novos comediantes. Vejo um futuro deslumbrante para ele. O Nizo já é um senhor e está muito bem. Nasceu a filhinha dele agora, a Sophia, minha neta número 12, que é uma gracinha. Ele está feliz da vida e não se preocupa com a ausência de sucesso na TV".


A Malga é 39 anos mais nova do que você, a diferença de idade atrapalha alguma coisa? "Que eu saiba não (risos)".


Do que mais sente falta? "Só do professor Raimundo (personagem), porque foi através dele que muitos comediantes chegaram, e alguns de enorme sucesso, como o Costinha, Antônio Carlos, Zé Trindade, Nelson da Capitinga, Tom Cavalcante, Geraldo Alves... Todos eles nasceram na 'Escolinha' e o povo adora. Agora passa no canal Viva, todos os dias às 19h30, e tem um monte de gente que não perde".


Você é considerado o maior humorista do Brasil. Acha que existe um sucessor à altura? "Não, pelo seguinte: o fato de ninguém ser insubstituível não se aplica ao humor, porque no humor todos somos insubstituíveis. O Oscarito, Mussum, Zacharias, Rogério Cardoso, cada um tinha a sua personalidade, um jeito, um estilo, que é incopiável. No meu lugar, ninguém! Vai ficar a saudade para quem gosta de mim, e o alívio para quem não gosta".


Como encara a velhice? "Acho que pior do que viver até os 80 anos é não chegar a tê-los! Estou esperando chegar chegar aos 90. estou brigando por isso...".


Tem medo da morte? "Dá para encará-la. É impossível ela não vir. Então, quando chegar a hora, quero estar preparado".


Aos 80 anos, considera que fez tudo o que queria ou ainda falta alguma coisa? "Fiz tudo! Só me arrependo de ter fumado...".


Que presente gostaria de ganhar? "Um pulmão novo!".


Link para a entrevista.