quarta-feira, 14 de abril de 2010

EX-DIRETOR GERAL DO INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER E ENTÃO SECRETÁRIO DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO FALOU SOBRE O TABAGISMO


Rio de Janeiro, 21 de agosto de 2007

Entrevista Dr. Jacob Kligerman, então Secretário de Saúde do município do Rio de Janeiro para Jornal do Centro de Apoio ao Tabagista

1. O cigarro fez parte de sua vida em algum momento?
Quando era muito jovem, 19 anos fumei por aproximadamente seis meses. Não agüentei mais. O cigarro realmente me fazia mal, acordava todo dia com enjôo, tinha ânsia de vômito, enfim, foi uma experiência negativa na minha vida.

2. Como cirurgião de Cabeça e Pescoço, como o tabagismo afetou a sua vida lá no início da carreira?
Na minha área de atuação, em quase todas as patologias é presente a influência do tabaco. Desde muito cedo constatei isso e vi que não há meio termo em relação ao tabagismo – o impacto a longo prazo é inegável. Todos têm que se conscientizar disso.

3. Como administrador, o Sr. exerceu o cargo de diretor geral do INCA. Qual a sua visão sobre a relação tabaco-câncer no país?
Na minha gestão, o enfoque sempre foi a busca da excelência. Ser muito atuante dentro do SUS, desenvolver programas focados na melhoria do atendimento à população, buscar desestimagtizar o câncer, divulgar a idéia da prevenção. E a luta contra o tabagismo teve papel fundamental.

4. Atualmente, o Sr. é o Secretário de Saúde do município do Rio de Janeiro. Como nenhum outro que lhe antecedeu, o Sr. tem se empenhado em dotar as unidades de saúde pública de equipes para tratamento do tabagismo. O que o move nesse sentido?
A certeza de que a população merece ter qualidade de vida cada vez melhor. E isso passa pela informação correta: a população precisa ter conhecimento da verdade sobre os malefícios do fumo. E eu tenho consciência de que devo prestar um bom serviço à população.
De tudo o que se faz para a prevenção do câncer, uma das campanhas mais importantes é a do antitabagismo. O tabagismo é responsável por mais de 80 mil mortes, anualmente, no Brasil, das quais, 30% por câncer. Além disso, é considerável a quantidade de pessoas que sofrem de problemas respiratórios, cardiovasculares e coronarianos por conta do cigarro. O fumo é realmente o fator mais agressivo de incidência do câncer de cabeça e pescoço e pulmão. Mas ele atinge outras áreas – hoje se sabe que a etiologia do câncer chega até o colo do útero. Na boca, o fumo possibilita a doença em toda a cavidade oral. Como cirurgião

5. É sabido que um terço dos cânceres tem relação com o tabaco. Que reflexão se pode fazer a respeito?
Muitas vidas poderiam se poupadas, alem de gastos com saúde na área de câncer poderiam ser evitados se tivéssemos mais programas voltados para a prevenção dos fatores de risco entre eles o tabagismo. Uma questão importante a ser levantada e que embora já haja muita informação à respeito das doenças tabaco relacionadas entre elas o câncer muitos fumantes continuam a fumar o que nos mostra que apenas informação não e suficiente para conter a epidemia do tabagismo.

6. Por que o empenho em dotar as unidades de saúde de equipes para tratamento do tabagismo?
Sabe-se que 80% dos fumantes desejam largar o cigarro mais apenas 3% conseguem sem auxilio todo ano. E preciso dar uma opção a fumantes que embora desejem abandonar o cigarro não sabe como fazê-lo. Segundo a OMS, os esforços para promover a cessação de fumar reduzem a mortalidade em um prazo mais curto do que a prevenção da iniciação no comportamento de fumar entre os jovens, que só produzirão mudanças nas estatísticas 30 a 50 anos depois, quando os adolescentes de hoje atingirem a faixa etária em que se concentram as mortes relacionadas ao tabagismo. Além disso, existem amplas evidências de que os esforços para promover e apoiar a cessação de fumar estão entre as abordagens na atenção a saúde que mais oferecem vantagens na relação custo benefício.
Sem duvida a abordagem do tabagismo deve ser uma rotina na unidade de saúde. Uma grande vantagem e que tal abordagem pode ser feita por qualquer profissional de saúde e não se restringe a apenas uma categoria profissional. Todo profissional de saúde tem motivos para aconselhar seu paciente a largar o cigarro: o medico, o psicólogo, fonoaudiólogo, dentista, assistente social, entre outros.

7. Como é o programa da SMS e como está atualmente?
Visto que a questão do tabagismo pode ser, sem dúvida, considerada um grave problema de saúde publica, a Prefeitura do Rio de Janeiro desenvolveu ao longo dos últimos anos um Programa de Controle de Tabagismo visando a diminuição da prevalência de fumantes e a conseqüente morbidade e mortalidade relacionada, o Programa de Tabagismo da SMS vem trabalhando de forma extensa em ações que visam reduzir a exposição à fumaça ambiental do tabaco, promover a cessação de fumar e reduzir a iniciação do tabagismo entre jovens.
. O Programa da Secretaria Municipal de Saúde dividi-se portanto, basicamente, em três grandes linhas: ambientes livres de fumo, prevenção e tratamento. Em relação ao ambiente livre de fumo realizamos treinamentos para implantação do mesmo em todas as unidades de saúde bem como parceria com a Vigilância Sanitária Municipal para a realização de campanhas educativas e fiscalização no município. No quesito tratamento O Programa da SMS Já capacitou mais o de 900 profissionais de saúde da rede para realizar abordagem intensiva com o fumante e vem a cada dia se empenhando na implantação de novos Centros de Tratamento ao fumante. Alem disso em parceria com Secretaria de Educação realizamos treinamentos para professores da rede de como abordar temas relacionados a tabagismo.

8. A não adesão de jovens, crianças e adolescentes ao fumo, existe de verdade?
Infelizmente os jovens, crianças e adolescente continuam a iniciar o consumo de cigarros. Tanto que a própria OMS considera o tabagismo uma doença pediátrica, visto que 90% dos fumantes iniciou um consumo nessa fase da vida.
A adolescência é um período conturbado em que o jovem está em busca de novos prazeres e sensações, bem como da conquista da liberdade, o que muitas vezes é feito através de rebeldia e da contestação de valores. Além disso, a pressão dos pares é particularmente importante nessa etapa da vida. As doenças tabaco relacionadas desenvolvem-se à longo prazo, e nessa faixa etária a idéia de malefícios causados pelo consumo de cigarros está muito distante, até porque o adolescente busca prazeres e sensações momentâneas, não se preocupando muitas vezes com as conseqüências futuras. Faz-se necessário, então, programas de prevenção focados na realidade do jovem.

9. Qual o papel da escola na luta contra o tabagismo?
A escola tem papel fundamental na formação de seu aluno e é muitas vezes o local onde o mesmo passa o maior parte de sua infância. É fundamental a abordagem do tema na escola mas e primordial que tabagismo seja abordado em sala de aula não somente nas aulas de Ciências ao se falar dos malefícios à saúde, mas também nas demais matérias como, por exemplo, na Matemática calculando-se o custo do cigarro e se buscando alternativas com o mesmo valor; na Educação Física abordando o fôlego, em Português analisando a linguagem das propagandas e se propondo um tema para redação sobre como aconselhar alguém a deixar o cigarro; em História relatando o histórico de consumo do tabaco no Brasil e no Mundo, bem como em Geografia abordando os danos ao solo e ao meio ambiente.

10. Em que pé estamos na cidade do Rio de Janeiro?

O Brasil tem conseguido escapar da tendência de crescimento do consumo. No Rio de Janeiro a prevalência de fumantes era de 30% em 1989, caiu para 21% em 2001 e 17,5% em 2003.

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